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Me dá um exemplo?

"Exemplo é tudo nessa vida!" - minha mãe

(sei que não foi minha mãe quem inventou esta frase, mas é tão presente no vocabulário dela, que em algum momento, já cheguei a acreditar que pudesse ter sido ela quem a criou. Deixemos assim.)

Faz exatos 31 anos que ouço repetidamente essa frase e confesso ter entendido o real significado dela há pouco tempo...não que isso tenha feito com que ela parasse de repetir e acredito que nunca irá mesmo, mas hoje, agradeço por ela inconscientemente me fazer relembrar a cada encontro nosso que "exemplo é MESMO tudo nesta vida", ou quase tudo.

Há dois finais de semana atrás, tivemos a oportunidade de fazer um passeio incrível de bicicleta por estradas montanhosas em Campos do Jordão e entre 3:25hs de pedalada, 32km de diversas subidas regadas a muito ar puro, campos de Hortências com uma variação tão imensa de paletas azuis que mesmo que eu tentasse descrever jamais conseguiria, um sol lindo flutuando num céu tão indescritivelmente azul quanto dos buquês de Hortências, muito suor, adrenalina, medo e desafios, eu fui presenteada com alguns exemplos que quero compartilhar com vocês.

Para começar, neste passeio foram comigo meu gatinho, os tios dele e o primo mais novo. Foi uma surpresa muito boa, pois não combinamos nada previamente e acredito que não teria saído tudo tão perfeito se tivéssemos combinado. O primo dele é super jovem e os tios tem por volta de 50 anos. E aqui começa meu primeiro exemplo. Quando falamos em superação, acredito que para cada um exista uma régua e definitivamente é muito difícil medirmos os limites de uma pessoa. Eu mal consigo medir os meus!

No início do passeio, a minha maior preocupação era que todos nós conseguíssemos juntos terminar todo o percurso, que mantivéssemos de certa forma a mesma performance e ninguém precisasse ficar para trás. Confesso que considerando a idade deles, imaginei que fôssemos fazer um treininho tranquilo, um passeio pelas lindas estradas PLANAS da montanha.

Quando começamos a montar o percurso, já de princípio me intrigou o fato de considerarem duas ladeiras significativamente grandes que ficam no final do caminho. Afinal de contas, se vamos descer, vamos ter que subir. Pois bem, andamos a primeira uma hora e na nossa frente muitas ladeiras, descida atrás de descida, meu coração ia ficando apertado primeiro por pensar na volta e segundo porque descobri que morro de medo de descidas hahahahaaha, fiz o percurso praticamente todo com o freio puxado e para a minha surpresa a tia dele descia na maior velocidade e eu mal conseguia ver a bike dela passar! Muito corajosaaaa! Que orgulho!
Enfim, eu acabei ficando para trás agarrada no meu medo e fazendo com que eles me esperassem kkkk...que micoooo!
Minha expectativa em relação à idade dos tios dele, começava a ser desmontada a cada vento no cabelo deles que eu via bater e, na expressão do rosto de satisfação em pegar mais e mais velocidade. Naquele momento, fiquei tão perplexa com a performance dos dois que parei de me preocupar com a volta, subidas ou qualquer outro obstáculo que pudesse surgir em minha mente.

Colocar expectativas no que quer que seja é muita burrice, deixamos de aproveitar a realidade dos fatos presos ao que acreditamos e sempre, sempre somos surpreendidos. Ou para mais ou para menos. Nós nunca sabemos exatamente como as situações vão se desenrolar! 
Perdi a oportunidade de soltar o freio literalmente da minha mente e sentir aquela sensação que parece ter sido maravilhosa do vento no cabelo! Expectativas não servem para nada.

Passada mais de uma hora de pedaladas começamos a sentir o corpo cada vez mais cansado e como o sol estava "à pino", não tínhamos outra escolha senão a de continuar a pedalar sem olhar para trás, pois ficar parado debaixo daquele "fogo" não parecia ser uma boa idéia. No percurso, avistávamos os campos de Hortências, espreitávamos as sombras dos pinheiros e inspirávamos o cheiro de cedro que a relva nos presenteava. Escolhíamos nosso passeio considerando a melhor vista, as paisagens mais bonitas e colocávamos de lado qualquer restrição de subidas e um possível caminho mais curto.
Meu corpo começava a ganhar uma força que eu NUNCA conheci antes, e minha mente entrou numa espécie de transe.

A certa altura, perto de terminar, eu tinha a impressão de não estar mais conectada com esse mundo. Parece loucura mas a cada pedalada mais forte, cada dor muscular, cada batimento cardíaco sufocante eu mentalizava cores percorrendo meu corpo, frases de incentivo, entoava músicas mentalmente e aos poucos eu me desligava de qualquer pensamento que não o movimento dos meus músculos, articulações, células. Minha mente agia como uma mãe que incentiva um filho a seguir a diante, encorajando cada micropartícula de energia vital a percorrer e permanecer dentro do meu corpo. Quando superamos estados de muito cansaço, esgotamento, esse passo seguinte nos coloca em uma situação de tanta, mais tanta concentração que eu não me lembro exatamente como foi que uma boa parte das subidas ficou para trás. 

Aqui entra outro exemplo que eu levei como lição. Quando olhamos para trás numa longa estrada, muitas vezes enxergamos o percurso que percorremos com outros olhos. Vista de longe, uma ladeira parece imensa, mas quando percorremos ela, muitas vezes não é tão íngreme quanto se imagina. A vida é isso, se olhar para trás e lembrar de tudo o que passou, muitas vezes dá preguiça de seguir a diante e se olhar muito para frente, perde a noção real do percurso. Só entendemos realmente, sentindo cada centímetro das "pedaladas"da vida. Não dá para confiar em nossas projeções, somente no momento que presenciamos elas.

Se àquela altura eu fosse considerar o que eu via ao olhar para trás, não continuava. Cada vez que eu espiava por cima do meu ombro ficava chocada com o tamanho das ladeiras que subia...e ao mesmo tempo, cada vez que avistava um possível final do nosso percurso, pensava umas 300xs em desistir. Mil frases vinham na minha cabeça: "meu corpo vai desligar", "amanhã eu não vou andar", " e seu eu tiver a famosa fadiga que todos tem, como vou voltar a pé?", " será que minhas articulações aguentam mesmo tudo isso?"... foi bizarro!!!
Considerando também o fato incrível e ultra inspirador dos tios dele se manterem focados e terminarem lindamente nosso passeio! Aliás, todos terminamos lindamente ;)

Foi demaaaaais!!! Esse universo das bikes tem sido muito motivador para mim e eu não tenho nem palavras para agradecer tamanha oportunidade.

Sim, é possível uma pessoa diagnosticada portadora de E.M, viver bem, com saúde, força, vitalidade e disposição e andar muitooooo de bike. Obviamente que respeitando os limites do corpo e sempre com muita cautela, pois cada caso é um. Mas é possível :)

Beijo grande!

P.S: porque eu amo "pss:" kkk, não tenho fotos do passeio pois acabei não levando meu celular, mas na próxima eu não perco um click!



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